quarta-feira, 9 de julho de 2014


Perfomer: Mei Oliveira
Existimos - A escritura dos peixes e Madrugada. Movimento Cidades invisíveis
Em vida, não conseguia fazer duas coisas as mesmo tempo.
Seu encanto pela água era tão forte, que quando ela a abandonava sua concentração se perdia. Molhava as coisas... as mãos, a roupa, se molhava. Logo, a água era sua hipnose.
As mães proibiram-lhe a água, os pais jogaram-lhe baldes, que ela os fez transbordar de águas cristalinas. Porém a água salgo, salgaram-na, quem sabe, só importa saber que ela salgo, nem azedou nem melou: salgo.
Triste, sem entender a ardência da água, fugiu. Correu, enquanto podia, foi ao encontro de quem a proibia. No colo da mãe, se fez de forte, tão forte que o colo pesou.
Rompeu, quebrou, bateu asas com tanta força que zonzeou a vista. Zonzeada, porém, mais lúcida, tornou-se ao pai, abriu os braços e planou ao encontro dele. Este, entretanto, nada a fez. Parado, sem mover-se - aos olhos da filha-, atordoou-se, de tal maneira que nada restou-lhe se não a morte.
Morrendo o pai, a menina perdida quis segui seus passos, sua mãe não deixou. A segurou pelo ventre e em brado reluzente fez-se em planto.
Agora, já plantada a mãe, seus cabelos se enrolaram, ganharam forças e caminhos imaginavelmente maculados.
Morte ao pai, vida à mãe. Pensou.
Pobre menina, ainda continua perdida. Pensei.

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